terça-feira, 19 de outubro de 2010

Aleatório. (Random)

Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo
numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné,
matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem
tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor
desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no
mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não
consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música.
Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma
euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir
é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é
conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado,
apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o
fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece
que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes
dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra,
doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz
realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial,
pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E
dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo
também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não
sentir nada.

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